Epistemicídio da cultura caipira em Saint-Hilaire e Monteiro Lobato

o vegetal parasita

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14244/2965-7334.e0025004

Palavras-chave:

caipira, colonialidade, espistemicídio, Epistemologias do Sul, Monteiro Lobato

Resumo

O presente artigo tem como objetivo compreender a perspectiva colonialista na depreciação da cultura caipira do interior do Estado de São Paulo. Para tanto, faz-se análise da obra do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire (Viajem à Província de São Paulo) e do modernista taubateano Monteiro Lobato – Velha Praga (1914) e Urupês (1918). A partir de teóricos que criticam a epistemologia colonizadora, tais como Aníbal Quijano e Boaventura Santos, observa-se o processo de epistemicídio da cultura caipira a partir de um olhar eurocêntrico pautado na perspectiva racial (e racista) e no evolucionismo radical. Neste sentido, nas obras de Auguste de Saint-Hilaire e Monteiro Lobato, o caipira é rotulado como vegetal ou parasita da terra, signos de uma raça inferior refratária ao progresso em termos de submissão ao modo de vida moderno civilizado. Em conclusão, destaca-se a necessidade de reconhecer o protagonismo do povo caipira na construção de sua própria história e de seus saberes tradicionais, primeiro passo para a valorização de uma epistemologia caipira de resistência.

Biografia do Autor

Ricardo Mendes Mattos, Universidade de Taubaté (UNITAU)

Doutor em Psicologia da Arte pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, instituição na qual concluiu seu pós-doutorado. Docente do curso de Psicologia da Universidade de Taubaté (UNITAU). Docente do Mestrado em Desenvolvimento Humano do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Taubaté. Coordenador do Núcleo de Bem-Estar e Saúde Mental da Pró-reitoria Estudantil da Universidade de Taubaté. Coordenador Pedagógico do curso de Psicologia da Universidade de Taubaté. Fundador do Acervo Maria Servina: canal no Youtube responsável por registrar manifestações da cultura popular de São Luiz do Paraitinga e Região. Desde 2014, dedica-se ao estudo de expressões da cultura tradicional de comunidades rurais de São Luiz do Paraitinga, reunidas em torno de uma Epistemologia Caipira: psicologicamente saudável, economicamente viável e ambientalmente sustentável.

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Publicado

30-12-2025

Como Citar

Mattos, R. M. (2025). Epistemicídio da cultura caipira em Saint-Hilaire e Monteiro Lobato: o vegetal parasita. Revista Estudos Da Condição Humana, 3, e0025004. https://doi.org/10.14244/2965-7334.e0025004

Edição

Seção

Artigos